Aos poucos, na ausência dele,
enquanto tentava compreendê-lo. Cada vez menos para que minha compreesão fosse
sedutora a ponto de convencê-lo a voltar , e cada vez mais para que essa
compreensão ajudasse a mim mesmo. Não sei dizer. Quando penso desse jeito,
enumero proposições como: a ser uma pessoa menos banal, a ser mais forte, mais
seguro, mais sereno, mais feliz, a navegar com o mínimo de dor. Essas coisas
todas que decidimos fazer ou tornar quando algo que supúnhamos grande acaba, e
não há nada a ser feito a não ser continuar vivendo.
Então que seja doce .Repito todas as manhãs , ao
abrir as janelas para deixar entrar o sol ou o cinza dos dias , bem assim: que
seja doce. Quando há sol esse sol bate na minha cara amassada de sono ou de
insônia…Mas , se laguém me perguntasse que deverá ser doce, talvez não saiba
responder. Tudo é tão vago como se fosse nada…
Pensava ás vezes em tratá-lo dessa forma, pelo
avesso, para que fossêmos mais felizes juntos. Nunca me atrevi. E , agora que
se foi , é tarde demais para tentar requintadas harmonias.
Eu o amava . Eu o amo ainda, quem sabe mesmo
agora, quem sabe mesmo sem saber direito o significado exato dessa palavra
seca- amor … dormindo ou acordado, eu recebia sua partida como um súbito soco
no peito. Então olhava para cima, para os lados, à procura de Deus ou qualquer
coisa assim- hamadríades, arcanjos, nuvens radioativas, demônios que fossem.
Nunca os via. Nunca via nada além das paredes de repente tão vazias sem ele…
Mais triste :nunca mais nenhuma vontade de ser feliz dentro da gente, mesmo que
essa felicidade nos deixe com o coração disparado , mãos úmidas , olhos
brilhantes e aquela fome incapaz de engolir qualquer coisa… As manhãs são boas
para acordar dentro delas , beber café , espiar o tempo. Os objetos são bons de
olhar para eles , sem muitos sustos , porque são o que são e também nos olham,
com os olhos que nada pensam. Desde que o mandei embora, para que eu pudesse
enfim aprender a grande desilusão do paraíso, é assim que sinto: quase sem
sentir…Mas respiro fundo, esfrego as palmas das mãos, gero energia de mim. Para
menter-me vivo, saio à procura de ilusões …. fico cansado do amor que sinto, e
num enorme esforço que aos poucos se transforma numa espécie de modesta
alegria, tarde da noite , sozinho neste apartamento… repito e repito este meu
confuso aprendizado para a criança-eu-mesmo sentada aflita e com frio nos
joelhos do sereno velho-eu-mesmo:
-Dorme, só existe o sonho. Dorme, meu filho. Que
seja doce.
Não , isso também não é verdade.
_Caio Fernando Abreu_( Os Dragões não conhecem o Paraíso)
caminhaste comigo quase metade da minha vida. e eu não tenho palavras para descrever o que foste e serás para mim. até porque , as palavras nunca foram necessárias para nós. tu estavas sempre onde quer que estivesse. sentias-me. que posso eu dizer-te, minha Bebé? que foste uma companheira inesquecível. queres saber um segredo para juntares a tantos que sabes? estás aqui comigo. dás-me um beijo de boa noite e deitas a tua cabeça sobre a minha mão, como todos estes anos. só que hoje, as lágrimas são por ti. tenho tantas saudades tuas!